Corvette Brasil

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os caminhos até o Sting Ray racer de 1959

O perfil quadrado dianteiro do Sting Ray é único. Esse desenho foi o que resultou no C2 de produção.

Para os nossos leitores, que nos acompanham desde o começo, já falamos do Sting Ray racer de Mitchell, do SR-2 e do SS para resumir as décadas de 50 e começo da de 60. Hoje vamos ligar esses carros e explicar melhor a sua relação, ou melhor árvore genealógica que culminou no Sting Ray racer de 1959.



Os grandes Corvettes da década de 50 e 60: O SR-2 vermelho, o Grand Sport de 1963 azul e o Sting Ray 1959.

No mundo do Corvette há algumas lendas e o Sting Ray racer de 1959 é talvez a maior delas. Isso de uma certa forma desmerece um dos melhores carros, o Corvette SS, do qual o racer deriva. Claro, apresentação é tudo e não dá para negar a obra prima que foi o desenho de Larry Shinoda no Sting Ray que resultou no C2 de 1963 à 1967 que até hoje são considerados um dos carros mais bonitos que saiu de uma fábrica. O objectivo desse texto é então unir as histórias do SR-2, do SS e do Sting Ray de uma forma mais detalhada que o que já contamos à parte até agora.

Notem as três luzes atrás de cada lado. Alguns C2 vinham com 3 luzes como opcional de fábrica.

O Sting Ray racer de 1959 seria uma lenda mesmo que o seu desenho não tivesse resultado no Corvette C2. O nome Sting Ray foi usado por Bill Mitchell por dois motivos: primeiro era a inspiração do carro e segundo porque o carro não poderia competir com o nome Corvette ou Chevrolet uma vez que as fábricas Americanas tinham assinado um acordo de cavalheiros para não competir em corridas. O Sting Ray utilizou o trabalho de Duntov e DeLorean no SS porém foi desenvolvido como um carro de corridas particular de Bill Mitchell. Mitchell era vice presidente de design da GM na época sucedendo Harley Earl. O carro foi desenvolvido num galpão secreto apelidado de "Hammer Room" (sala da marreta) que ficava atrás de uma sala de ferramentas.O Sting Ray de Mitchell foi campeão da SCCA em 1960.


Apesar de ter nascido vermelho, o Sting Ray é mais famoso pela sua última cor prata com interior em couro prata também. Observem os dois parabrisa e o espelho retrovisor central. Lindo carro.

O Sting Ray racer na verdade foi montado sobre o carro mula de testes do programa do Corvette SS. Nós mostramos esse carro com Duntov ao volante no aeroporto de Sebring. Porém a carroceria dele foi modelada com a argila usada no protótipo do XP-96. Ou seja, Mitchell, Larry Shinoda e Chuck Pohlmann (quem desenhou o XP-96 junto com Peter Brock) usaram materiais, peças e recursos de programas especiais do passado do Corvette. Inclusive, reza a lenda que o chassis do Corvette SS mula que tinha sido guardado num depósito por Duntov foi cedido à Mitchell pela quantidade simbólica de 1 Dólar.

O chassis mula do SS de Duntov em Sebring. Ao volante, Duntov com o seu famoso capecete amarelo.

O SS mula sendo preparado pelos mecânicos antes de classificação em Sebring.

O Corvette SS do Duntov foi uma sequência mais processional ao trabalho patrocinado por Harley Earl no SR-2 que ele criou de forma ao seu filho Jerry largar a Ferrari que usava para competir na SCCA. O programa do SR-2 foi muito bem sucedido e temos até uma réplica desse carro de propriedade de um de nossos leitores, o Alexandre Z. O SS foi inspirado em dois carros: O Jaguar D-Type para o seu desenho e na Mercedes 300SL para as soluções de engenharia. Duntov projetou o chassis tubular do SS com pedaços de madeira ao invés de usar o chassis de série do Corvette C1. Usando, digamos, uma certa criatividade em termos contábeis Duntov conseguiu arrecadar fundos na GM para construir dois chassis ao invés de um para o SS. Internamente, o SS era chamado pelo código XP-64. O termo XP era uma abreviação de "Experimental Pursuit" que Earl gostava pois era o termo militar para protótipos de caças à jato que pode ser traduzido para português como "Perseguição Experimental". Aliás, todos os grandes protótipos do Corvette usam o termo XP devido à Earl. A inspiração na aviação sempre foi parte de todos os Corvette.

O Corvette SS e sua bela carroceria azul de magnésio.


O interior do Corvette SS. Muito parecido com os Jaguar e Aston Martins da época que competiram em Le Mans. Esse seria o destino do SS não fosse a AMA.

O motor do SS montado quase que de forma central. Um motor diânteiro central que iria influenciar o C5 e o C6 décadas mais tarde.

Porém os dois chassis do SS seguiram caminhos diferentes. Enquanto que o chassis principal recebeu um motor 283ci com injecção de 307 hp e uma carroceira exótica de magnésio, o segundo chamado de "a mula" recebeu uma carroceira grossa de fibra de vidro que era 75 quilos mais pesada e um motor menos potente. A mula foi usada para desenvolver vários componentes para o SS como por exemplo um sistema de freios ABS inédito para a época que permitia ao piloto aplicar pressão maior de freio às rodas dianteiras em curvas fechadas enquanto que a pressão de freio nas rodas traseiras seria menor o que reduzia as chances das rodas traseiras travarem.

A mula seria ainda usada para o treino classificatório de Sebring em 1957 uma vez que o SS oficial não estava pronto. Mesmo mais pesado conseguiu um lugar na primeira fila que, no dia da corrida, foi ocupado pelo belo SS azul de carroceira de magnésio. Infelizmente com problemas de freio e tendo a carroceira de magnésio como um gerador de execesso de calor o SS apenas completou 23 voltas das 12 horas da corrida antes de abandonar a prova.

Mesmo que não seja idêntico ao Sting Ray de produção que veio somente em 1963, não há como negar as semelhanças como a espinha central no capô. Somente depois de ter parado de competir é que os emblemas e o logo do Corvette foi inserido no carro. Antes não havia nada que pudesse dizer Corvette ou Chevrolet.

Foi uma grande decepção para a Chevrolet ainda que, como consolo, um SR-2 modificado ganhou na classe de veículos de produção modificados o que de certa forma foi legal para a Chevrolet. Mas o pior foi o fato que o SS foi o último grande Corvette de competição oficial de fábrica por muitos anos devido ao acordo entre as mondadoras Americanas através da Automobile Manufacturers Association (AMA).


A saida lateral de ar do Sting Ray foi uma solução para a péssima aerodinâmica. Aos 225 km/h a frente começava a levantar do solo. A solução foi abaixar a frente para reduzir esse problema. Observem as rodas Halibrands e os escapes laterais.

Assim, o destino do Corvette SS, com seu apoio de cabeça parecido com uma bola de futebol Americano em voô e suas linhas inspiradas no Jaguar D-Type, é então de ser guardado num depósito por Duntov no qual hiberna até 1959. Assim que Bill Mitchell assume a vice presidência do departamento de Styling no lugar de Harley Earl, Mitchell começa à colocar as manguinhas de fora. Na verdade Mitchell foi contratado por Earl em 1935 e, de certa forma, preparado por Earl para sucedê-lo. Assim em 1958 acontece a sucessão e a primeira coisa que Mitchell faz é mudar o nome do departamento de Styling para Design. Isso porque Styling soa meio light, sem importância. Ele queria mostrar para a GM que o trabalho que iria desenvolver era muito importante e não queria que a GM o controla-se. A segunda coisa que Mitchell faz é mandar retirar as duas barbatanas cromadas de Earl (que adorava cromados) do Corvette e assim o modelo de 1959 não tem as barbatanas cromadas no porta-malas como o de 1958 tinha. Notem o exemplar de 1958 que estava no nosso encontro da NCRS nesse texto.

Construido em segredo por Mitchell que entrou o carro na SCCA e foi campeão na sua classe.

Claro, as duas primeiras coisas que Mitchell fez, como vice presidente, não arranham nem de perto as suas idéias ambiciosas. Já em 1956 Mitchell criou uma competição interna dentro da Chevrolet e seus dois estúdios de design para criar o que seria um novo Corvette para 1960. O vencedor ficou com um desenho de um cupê (na Europa os cupês estavam ganhando terreno em relação aos roadsters na época) cujo código interno era XP-84 e seu desenho tinha sido responsabilidade de Peter Brook. O XP-84 teria ainda toda a parte mecânica desenvolvida por Duntov e o outro engenheiro da equipe, Byron Voight. O outro carro, o roadster, recebeu a denominação de XP-96. Chuck Pohlmann foi o responsável pelas formas do XP-96. No final, Mitchell acabou se decidindo pelo XP-96 pelo fato de ser um roadster e ter custos de produção inferiores ao cupê XP-84.

O XP-84 cupê feito de argila. Notem os paralamas e a semelhança com os Sting Ray.


Mas os nossos bravos leitores conhecem bem o Corvette 1960, logo a conclusão lógica: o C1 continuou para 1960 com pequenas alterações cosméticas. Em parte, o motivo disso foi que um novo presidente da GM foi eleito e assim o conceito não passou no crivo. O objetivo com o novo Corvette era bem ambicioso: incluia câmbio no eixo traseiro (apenas em 1997 o C5 veio com isso), cárter à seco (primeiro no Z06 de 2006) e um peso de apenas 1 tonelada Americana (2.000 libras ou 907 kg). Duntov foi o primeiro à admitir: "Muito ambicioso." Mas imaginem, se o XP-96 tivesse vingado o que seriam os carros esportivos hoje? Em especial os esportivos Europeus que estariam bem atrás desse suposto Corvette em 1960.

Porém os bem sucedidos são, em geral, muito teimosos. Eu nunca entendi se Mitchell queria que o XP-96 fosse um show car no circuito do Motorama ou um carro de competição. Talvez necessite pesquisar isso mais. O que podemos dizer era que Mitchell tinha a pulga das corridas na cueca o que ficou evidente quando apoiou o programa do SR-2 e depois o que ele faria construindo o Sting Ray racer de 1959. Concluindo assim, ele juntou a fortuna de 1 Dólar e comprou o chassi da mula de testes do SS e assim, escondido na sala da marreta junto com seus parceiros no crime, tornou o XP-96, ou melhor, o Sting Ray uma realidade nas pistas. Notem como as formas do XP-84 são parecidas com a de um Sting Ray de 1963.

O enconsto traseiro na carroceria com uma pequena almofada em couro prata é a evolução natural do encosto em forma de bola de rugby do SS. Assim como no SS, havia um santo antônio debaixo dele.

Mas sem dúvida existia o acordo da AMA para não competir e assim Mitchell pensava que o banimento era com a GM e não com ele e se sentia no direito de competir. Então, ao invés de Corvette, batizou o carro de Sting Ray e desenvolveu um logotipo de raia para o carro. Nada que tivesse menção à Chevrolet ou Corvette. Quando entrou nas competições da SCCA recrutou Larry Shinoda (o responsável principal pela carroceria do Sting Ray) e Tony Lapine como seus amigos e equipe. Ficaria ao engenheiro Dean Bedford o cargo de chefe de equipe. Bastante ambicioso, sem dúvida, mas não vamos esquecer que o Sting Ray foi construido na surdina escondido dentro da própria GM. Mas isso deu muitos frutos pois o carro ficou famoso. Logo no C2 o nome do carro era Corvette Sting Ray, uma boa sacada de marketing.

Como já contamos o Sting Ray estreiou nas pista em 1959 por volta de Março com aquela cor vermelha que pode ser visto no filme do Elvis. O motor era um 283 ci modificado, freios à tambor como no SS e uma suspensão traseira De Dion que veio direto do SS. Apesar da suspensão traseira não ser totalmente independente, os braços do eixo do sistema De Dion lembra muito os 3 braços da suspensão independente que veio de série no Sting Ray de 1963. E para quem gosta de Aston Martins como James Bond, sabe que esses carros tinham um sistema bem parecidod de 1967 à 1989 porém já nessa época o Corvette tinha evoluido para um sistema de 5 pontos ao invés de 3.

Assim terminamos o ano no Corvette Brasil, ligando os pontinhos desde o SR-2, passando pelo SS e terminando no Sting Ray. As décadas de 50 e 60 produziram trabalhos interessantes no campo do Corvette sempre liderados por personalidades como Bill Mitchell, Larry Shinoda, Zora Arkus-Duntov e John DeLorean. Ah sim, vamos lembrar também da réplica no Sting Ray construída na Inglaterra que mostramos aqui. Uma história muito rica que é ainda mais rica que várias marcas Européias inteiras independente do carro. Aqui estamos apenas falando do Corvette que por si próprio e sua rica história é basicamente uma divisão quase instituição. Feliz 2011 à todos!


O Sting Ray em ação executando uma freiada.

O Sting Ray nos boxes antes de uma corrida.

Bill Mitchell entre o Sting Ray de 1959 (ainda na cor original vermelha que entrou nas competições da SCCA em 1959 e 1960) e o outro Corvette conceito o XP-700.


Alguem percebeu quem está sentado ao volante do Sting Ray? O único campeão de Fórmula 1 Americano nascido nos EUA e que faleceu recentemente: Phill Hill. Ao seu lado Bill Mitchell em pé.

Notem com o C2 de produção de 1963 (á direita) era quase idêntico ao racer de 1959 de Mitchell.


Bill Mitchell que usava o seu Sting Ray 1959 como carro diário por Detroit. Sempre com um fedora na cabeça.



O Corvette SS ao lado do Sting Ray. Bela imagem.


Mitchell ao lado da sua criação com as cores de competição, sem os emblItalicemas e modificaçãoes para poder andar com o carro na rua.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sempre achei esse carro maravilhoso, tanto que tenho um exemplar 1:18. Foi bom saber mais detalhes sobre ele.

Luiz disse...

Corvette Brasil fechou o ano com chave de ouro!
Happy New Year!

Joel Gayeski disse...

Mais um post gostoso de ler.

"Mas imaginem, se o XP-96 tivesse vingado o que seriam os carros esportivos hoje? Em especial os esportivos Europeus que estariam bem atrás desse suposto Corvette em 1960."

Seria uma revolução e teria jogado os esportivos um degrau acima.