Corvette Brasil

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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Do Paraná à Brasília abordo de um Stingray


O carro que estão vendo nas fotos pertence ao leitor e colecionador Sr. Ricardo Monteiro de Castro Melo. A história do carro é tão apaixonante quanto a aventura que os irmãos Monteiro de Castro Melo viveram à bordo do Stingray 1973 no melhor estilo Rota 66 (Route 66, série americana da aventura de dois amigos a bordo de um Corvette).

Com a palavra o Sr. Ricardo Monteiro de Castro Melo:
Carlos,
É um prazer receber sua mensagem, sou cadastrado no Corvette Brasil, e sinto como se já o conhecesse. Mesmo antes de meu cadastro, já acompanhava seus artigos no AUTOentusiastas, e devo dizer que gosto de seu texto e de seu assunto.
Este é meu primeiro Corvette, um L48 que não mais é matching #, pois seu atual motor é um 350 HN de 1969 oriundo de um Impala 69, de 300 cv declarados. O carro foi importado em 2009 aí dos EUA por um paranaense que morava em Orlando, Flórida, e o comprei no mês passado. Finalmente, após 2 anos tentando, eu consegui o meu Stingray.
Sua compra foi uma aventura quase inconsequente, uma vez que vi as mesmas fotografias que estão vendo - tive algumas conversas telefônicas com o vendedor (no início achei fosse um colecionador, e mais tarde vi que era um comerciante), pesquisei rapidamente os codes #s do carro, e todos, exceto o motor, conferiam. Mesmo não tendo mais o motor original, resolvi comprá-lo e vir rodando para Brasília. Detalhe: o carro estava no interior, oeste do Paraná, distante quase 1.600 km de minha cidade.
Após o fechamento do negócio, convidei meu irmão caçula - que mora em Minas Gerais - para buscar o carro comigo, e fiquei muito feliz quando ele aceitou. Depois, uma infinidade de interurbanos ao vendedor, perguntando minúcias e fazendo recomendações de revisão para a minha viagem de volta. E ele sempre me garantindo que o carro já tinha sido totalmente revisado nos Estados Unidos, mas que estava providenciando o que eu solicitava.
Finalmente, numa quinta feira, tomei um voo para o aeroporto mais próximo de meu novo carro véio. A expectativa era enorme, e em minha fantasia imaginava dirigir a "máquina" assim que a visse, pois, afinal, se passaram 10 dias entre a data da compra e a disponibilidade no serviço para viajar. O avião pousou, esperei cerca de 3 horas o vendedor vir até o aeroporto me apanhar, e depois ainda enfrentamos cerca de 150 km de estradas vicinais (coisa de 2,5 h de viagem) na volta até sua cidade, onde meu novo objeto de desejo me esperava. Tendo chegado à noite, apenas no dia seguinte seria possível vê-lo.
Na sexta feira de manhã, quando entrei na oficina em que estava o carro, fui ofuscado pela beleza de suas agressivas linhas, o brilho de sua maravilhosa pintura cor laranja, sem falar do enorme charme daquele interior de couros, plásticos e carpetes na cor saddle tan. Estava tão embevecido que nem reparei que o carro estava sobre cavaletes, ainda consertando freios que já deveriam estar prontos e revisados há uma semana. Tinha também um eletricista deitado no carpete do assoalho verificando as luzes de cortesia, além de outro funcionário trabalhando nos braços internos dos limpadores de para-brisa. Sobre o ar condicionado, fui logo avisado que não iria funcionar. Tudo o que me havia sido prometido ainda não estava cumprido, não estava pronto. A irritação começou a tomar conta de mim, e achei melhor ir até a recepção da oficina tomar um pouco de água e um cafezinho.
Mais calmo, fui com o vendedor ao cartório cuidar das burocracias do negócio. No começo da tarde meu irmão chegou e também se apaixonou à primeira vista pelo Stingray. Mesmo com a dedicação e a boa vontade dos mecânicos, não foi possível seguir meus planos de sair logo para iniciar minha viagem de volta. Ao final do dia, já escurecendo, consegui finalmente dirigir o carro. Mais decepção, pois os freios estavam baixos, borrachudos e puxando para a direita. Os faróis até que levantavam, mas não abaixavam. Limpadores de para-brisa ineficientes, com seu curso batendo na armação cromada do vidro. Ruídos parasitas de portas e seus vidros, mais o tetos targa, davam a impressão de que o carro iria desmontar, pois eram muitos os barulhos indesejáveis.
Quanto à mecânica (motor, câmbio e suspensão), o carro estava impecável. Voltei à oficina, relatei o que tinha achado e avisei que voltaria na manhã seguinte, logo cedo já com minhas malas, para iniciar o regresso de 1.500 km e que necessitava de um carro que me inspirasse segurança para isto. O mecânico principal da oficina me garantiu que logo cedo no sábado o Corvette estaria pronto.
De repente, já era sábado de manhã, o carro tinha melhorado um pouco mas ainda não estava como eu gosto. Uma pequena conferência familiar, vagas garantias mecânicas dadas sobre freios e a necessidade de estarmos em casa na segunda feira apressaram nossa decisão. Só lá pelas dez horas conseguimos pegar a estrada, com meu irmão dirigindo e eu cuidando do GPS e tendo de escolher qual o melhor caminho. Resolvemos seguir a recomendação de trajeto que o vendedor fez e seguir por estradas estaduais até atingirmos o estado de São Paulo.
Logo nos primeiros quilômetros percorridos descobri que o barulho mais irritante do carro era proveniente do teto targa, e que um pouco de pressão puxando o teto contra a carroceria era o suficiente para eliminar mais de 50% dos ruídos. Mais alguns quilômetros rodados - não tínhamos ainda uma hora de viagem - e o carro começa a esquentar. Paramos num "postinho sem-vergonha" de beira de estrada, e juntou gente para admirar o Corvette. Aberto o capô, lá estava um furo no radiador jogando vapor e sujando todo o compartimento do motor. E o vendedor havia me garantido que tinha revisado e varetado o radiador...
No local não tinha nenhum recurso para resolver o problema, e foi então que me lembrei de um aprendizado de adolescente: banana verde raspada na colméia de um radiador furado normalmente estanca o vazamento (não me pergunte como). Mas... e onde achar banana verde? A resposta veio do pequeno público de fanáticos recentemente admiradores de Corvette Sting Ray 73 laranja: "É só pular o muro atrás do posto que o velhinho que mora lá tem algumas bananeiras. Cuidado pra não levar um tiro." Conseguidas as salvadoras bananas e devidamente raspadas na colmeia do radiador, foi só completar o nível de água e seguirmos viagem felizes da vida por salvarmos o dia com o improvisado conserto. Neste "postinho sem-vergonha" consegui ainda um pedaço de câmara de ar, a qual devidamente dobrada e encaixada nas travas do teto targa, deu pressão suficiente para eliminar o rangido que vinha nos enlouquecendo. Eta postinho bom.
Seguindo pelas estradas paranaenses, fomos ficando mal-acostumados com um pouquinho de primeiro mundo. Embora sejam de pista simples, o asfalto é excelente, quase não há remendos e a sinalização está bem cuidada. O inconveniente é que passa por muitas pequenas cidades e, claro, lá estão os indefectíveis quebra-molas, os quais são excelentes apenas para atrasar viagens. Ainda mantendo na boca o bom gostinho de "salvar o dia com improvisado conserto", reparamos que o marcador de temperatura da água começava timidamente a se movimentar. Desta vez, já mais acostumados ao carro e à estrada, seguimos até achar um posto de combustível maior, voltado para caminhões, com vala, venda de produtos, borracheiro, mecânico etc. e quando paramos, verifiquei as horas: tínhamos rodado praticamente uma hora desde que reabastecemos o radiador.
Colocamos o carro na vala e fomos tentar achar outro vazamento, pois aquele que jogava vapor eu já tinha consertado. Será que tinha mesmo? Olhando o motor por baixo, de dentro da vala, minha impressão era que continuava a sair vapor no mesmo lugar onde eu tinha ralado a banana. Aí apareceu o mecânico do posto, e num minuto nos recomendou um "pó-de-vedar-furo-em-radiador" que tinha à venda no tal posto. Comprei o produto, abri a embalagem - uma latinha pequena - e fiquei impressionado: o produto-de-vedar-furo-em-radiador parecia bosta de boi em pó. Mas tinha até uma bula, explicando como aplicar o produto. Seguimos a recomendação, abastecemos e seguimos viagem. Então, o radiador só podia estar perfeito, pois uma boa banana verde ralada em sua colmeia e um pozinho milagroso em seu interior, era tudo que ele (o radiador) precisava para manter o motor do Corvette na temperatura ideal de funcionamento.
E tome estrada... Nessas alturas, quem queria abastecer éramos nós, uma fome enorme. Ficamos na expectativa de um bom posto, com boa área de alimentação. Que não chegava nunca, eram só postos pequenos, e de combustível sem bandeira, e também sem lanchonete. O tempo foi passando e... Advinha? Óbvio! Ele, de novo. O famoso marcador de temperatura do motor estava novamente começando a sair de sua posição normal. A partir deste ponto, virou rotina. De hora em hora, tínhamos de completar o nível de água no radiador.
E o Corvette continuava valente na estrada, encarando o péssimo asfalto do interior do estado paulista. De Ourinhos (passando por Marília e São José do Rio Preto) até a divisa de Minas Gerais, as estradas estão todas remendadas, e ainda cobram pedágio na maior cara-de-pau. Reclamamos da condição da estrada em duas praças de pedágio, e a resposta parecia ensaiada: Ligue no 0800... Grande Transbrasiliana!
Depois de atravessar a fronteira de Minas, em direção a Frutal, aí é que ficou bom... Bom pra quem eu não sei, pois a estrada acaba: onde não tem buraco, tem remendo de asfalto. Uma vergonha para mim, que sou mineiro. Mas o Corvette continuava valente, com seu V-8 de 350 polegadas cúbicas respondendo instantaneamente a cada pressão do acelerador e mantendo uma média de consumo que me surpreendeu favoravelmente: 5,5 km/litro. Sua suspensão me impressionou, pois ao mesmo tempo que é macia para um esportivo, faz bem as curvas e suporta magistralmente as irregularidades do piso das estradas brasileiras.
Finalizando este relato: o Corvette Sting Ray 1973 me deixou muito feliz, pois além de lindo, é gostoso (de dirigir, claro), confortável e, sobretudo, muito valente. Agüentar os 1.500 km como ele aguentou não é para qualquer carro. Chegou inteiro.
Agora, preciso achar um Z06 com a do Scheidecker e vir rodando dos EUA para Brasília
Parabéns ao Sr. Monteiro de Castro Melo pelo belo Stingray '73.

6 comentários:

Mauricio Morais disse...

Muito legal esta história. Mas ficou uma pergunta: Qual era o problema do radiador, afinal? Tinha outro buraco?

Carlos Scheidecker disse...

Eu acho que tinha vários. Mas os irmãos devem ter se divertido pacas.

Francisco J.Pellegrino disse...

Nada melhor do que concretizar os sonhos...parabens

Lawrence Jorge R S disse...

Esse post lembra o filme Cadillac Azul, aonde 3 irmão se metem nas maiores enrrascadas para levar o carro até os pais... KKKK
Show de bola, carro incrível!
Parabéns!

Barata disse...

Talvez sem os furos a viagem não tivesse sido a mesma! Prabéns pela realização do sonho.

Marco Brizzi disse...

Sr.Ricardo Monteiro de Castro Melo,sua história é típica de pessoas que vão em busca de seus sonhos e tudo isso tem um preço que depois é o prêmio pela conquista.Quanto ao barulho do seu teto targa, tenho uma Corvette 74 que estava me deixando desanimado, porem fui numa loja de material de construção e comprei um rolo de feltro para vedação de portas e janelas, que vem com um adesivo para você aplicar no local onde vai fixar . Coloquei em toda volta do teto targa (parte movel) e depois apliquei WD-40 na parte cromada do teto, deixando bem lubrificado essa parte cromada. Acabaram todos os barulhos. Espero que resolva seu caso.
Parabens pelo Corvette.
Abs.
Marco Brizzi